
21 de Janeiro de 2025
Por que é tão difícil esperar em Deus?
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Paróquias
Todos temos a sensação de que esperar em Deus é algo muito difícil de se viver. Isso porque o ato de esperar é um paradoxo. É a simultânea experiência da expectativa e da incerteza. Além disso, é o desejo ardente por algo que ainda não se concretizou, misturado à ansiedade de não saber quando, ou se isso acontecerá.
No entanto, esquecemos que a espera, em sua essência, é um ato de fé! É confiar que algo bom está por vir, mesmo quando as incertezas nos rodeiam e a ansiedade nos consome.
Logo, na vida cristã, a espera é uma constante. Esperamos a volta de Cristo, a resposta a nossas orações, a manifestação dos planos de Deus em nossas vidas. Sendo assim, esperar em Deus adquire uma dimensão ainda mais profunda, pois envolve a confiança em um plano maior, muitas vezes invisível aos nossos olhos.
Mas por que, então, esperar em Deus se torna tão difícil? Por que nos sentimos tão inquietos e impacientes?
O imediatismo da era digital
Vivemos em uma era marcada pela instantaneidade. Um clique e temos acesso a qualquer informação; um toque e nos conectamos com pessoas do outro lado do mundo.
Ou seja, a cultura do “agora” invade e permeia todos os aspectos de nossas vidas, desde as relações pessoais até o mundo do trabalho. E essa busca incessante pelo imediato nos torna impacientes, tornando a espera um ato de resistência, uma experiência quase insuportável para muitas pessoas.
Além disso, a cultura do “agora” nos condiciona a buscar resultados imediatos e qualquer demora é interpretada como um sinal de fracasso ou de que algo está errado. E essa mentalidade, naturalmente, se infiltra em nossa vida espiritual, fazendo com que esperar em Deus pareça uma eternidade.
Nesse contexto, a espera se torna um exercício de contracultura, um desafio à nossa natureza imediatista.
Esperar em Deus: o medo do desconhecido
Esperar significa lidar com a incerteza. Não sabemos o que o futuro nos reserva, e isso nos atemoriza, gera ansiedade e insegurança. E a insegurança quanto ao futuro nos leva a questionar nossas escolhas, a duvidar de nossas capacidades e a temer o fracasso.
Neste sentido, a espera é um convite a sairmos da nossa zona de conforto e a enfrentarmos o desconhecido com fé.
O ser humano, por natureza, busca a certeza, o controle. No entanto, esperar em Deus exige que renunciemos a esse controle, confiando que Ele tem o tempo perfeito para todas as coisas. Logo, essa renúncia é um ato de fé que nem sempre é fácil de realizar.
Esperar em Deus: a pressão social como inimigo
A sociedade em que vivemos valoriza, e muito, a realização pessoal, o sucesso profissional e a felicidade imediata.
Nas redes sociais, principalmente, somos constantemente bombardeados por mensagens e conteúdos que nos incentivam a buscar a perfeição e a alcançar nossos objetivos. E tudo o mais rápido possível!
Logo, essa pressão social nos leva a acreditar que devemos ter todas as respostas e que não podemos falhar. E neste contexto, a espera é vista como uma perda de tempo e uma demonstração de fraqueza.
Sendo assim, não podemos permitir que a pressão social interfira em nossa atitude de fé de esperar em Deus, ou corremos o risco de fazer escolhas indevidas e de posteriormente viver, como consequência, o arrependimento.
Esperança e perseverança como virtudes do esperar em Deus
A impaciência é outra grande inimiga da espera. Queremos resultados rápidos, soluções imediatas. No entanto, esperar em Deus exige paciência e perseverança. É preciso cultivar a virtude da espera, entendendo que os planos de Deus se desvelam no tempo certo.
Contudo, esperar em Deus não é apenas uma experiência passiva. É um tempo de preparação, de crescimento e de aprofundamento da nossa fé. É durante a espera que aprendemos a confiar em Deus, a desenvolver a paciência e a cultivar a esperança.
E a esperança é uma virtude teologal que nos permite enxergar além das circunstâncias presentes e a acreditar em um futuro melhor.
Por isso, o Bem-Aventurado Francisco Jordan, fundador da Família Salvatoriana, nos incentiva em suas alocuções: “Refugiem-se na oração e, ao orarem, recuperarão novamente a confiança e a esperança. Oh! Quantos se perderam para sempre, quer para a Vida Religiosa, quer para a vida eterna, por falta de confiança, por pusilanimidade”.
Esperar em Deus: etapa fundamental da decisão vocacional
A escolha da vocação é um momento crucial na vida de todo cristão. É um chamado a seguir a Deus de forma plena e a servir à Igreja. No entanto, essa decisão muitas vezes envolve um longo processo de discernimento e de espera.
Sendo assim, esperar em Deus, nesse processo, é fundamental. É o tempo de discernimento, de aprofundamento da relação com Deus, de escutar a Sua voz.
Além disso, a espera é necessária como um tempo para conhecer a si mesmo, para discernir os dons e os carismas recebidos de Deus e para encontrar o lugar onde podemos melhor servir.
Logo, a espera, nesse contexto, não é um sinal de indecisão, mas sim uma oportunidade para aprofundar a nossa relação com Deus. É durante o esperar em Deus que podemos buscar a orientação do Espírito Santo, conversar com pessoas sábias e experimentar diferentes formas de serviço.
E neste processo a perseverança e a esperança nos permitem confiar que Deus nos guiará para o caminho certo, mesmo que não tenhamos todas as respostas no momento presente.
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Afinal, por que a espera é tão difícil?
Porque a espera exige de nós uma postura de humildade, de confiança e de entrega. É preciso reconhecer que não temos todas as respostas, que nossos planos podem não ser os melhores. Além disso, é preciso confiar que Deus, em Sua infinita sabedoria, conduz nossa vida.
Logo, esperar em Deus é um ato de amor. É dizer a Ele: “Eu confio em Ti, mesmo que não entenda os Teus caminhos”. Também é reconhecer que a vontade de Deus é maior que a minha, e entregar-se a Ele, sabendo que em Suas mãos estamos seguros.
Enfim, esperar em Deus não é fácil, mas é fundamental para o nosso crescimento espiritual e principalmente para discernir a vocação. Ao cultivar a paciência, a confiança e a esperança, podemos encontrar a paz interior e a certeza de que estamos no caminho certo.
Logo, a decisão vocacional, assim como todas as grandes decisões da vida, exige tempo e discernimento. Ao confiar em Deus e buscar sua vontade, encontraremos a força e a coragem necessárias para seguir o caminho que Ele, o Divino Salvador, traçou para nós!
Por isso, como nos diz o Bem-Aventurado Francisco Jordan em seu Diário Espiritual: crê, espera, confia, ama e vai em frente!