Pe. Deolino Pedro Baldissera, sds

 Poetar é deixar a vida falar livremente…

Hoje vamos poetar sem ser poeta.

Deixar que a mente flutue entre a fantasia e a realidade para criar um espaço entre o sufoco das pressões diárias e um destresse despretensioso. 

Vamos fingir que estamos falando sério, brincando com as situações que nos cercam.

Mas o que é poetar? 

Deixar que a mente divague, que fale bobagens sem ofender ninguém, apenas como refresco para a alma se distrair um pouco;

Esquecer por um momento dos problemas para respirar com menos sofreguidão.

Cantar desafinado, imaginando estar acompanhado de uma orquestra dirigida com maestria,

Contar piada sem apelação para o vulgar, para fazer rir quem está meio estressado.

Mas poetar é isso? Não, tem mais! 

Vamos poetar sobre aquilo que distrai. 

Divagar de olhos abertos, olhando para o horizonte azul celeste,

Olhar para cima seguindo o balanceio das nuvens no seu vai e vem;

Umas correndo de pressa, chuvosas, embaladas pela ventania;

Outras lentas, de brancura tênue, desenhando figuras, meio paradas. 

Caminhar sem pressa de chegar ao destino.

Parar para ver a flor que nasceu entre as pedras da calçada da rua quase deserta!

Atravessar para o outro lado com o farol fechado, cuidando para não tropeçar em alguém.

Parar na vitrine da loja ainda fechada, cheia de atrações para comprar.

Isso você chama de poetar?  Sem rimas, sem métrica?  

Não precisa se preocupar, não é concurso para a academia de letras. 

Brinque de poeta mesmo não sendo, não faz mal!

Se alguém não gostar, não se incomode, ele pensa diferente de você.

Diga o que quiser sem receio, deixe livre quem quiser se distrair com o que escreveu.

Isso ainda não é loucura!

Poetar faz bem!

Perceber o ar que entra pelas narinas oxigenando os pulmões,

Sentir o vup… vup… do coração trabalhando sem parar.

Gostar do arrepiozinho causado pelo vento em sua pele.

Concentrar-se no pontinho de luz no escuro, sem ficar com medo das sombras.

Voltar de um passeio, meio suado, cansado, mas satisfeito por tê-lo feito.

Contar as estrelas do céu só para se distrair.

Comer duas frutas diferentes para degustar o sabor que cada uma tem.

Beber um pouco de água fresca com a sensação de quem está mergulhando num oceano.

Ir ao cinema para comer pipoca enquanto vê o que rola na tela.

Não se assustar com a folha que caiu bem à sua frente, 

Ela, apenas está dizendo que cumpriu sua missão.

Tirar uma soneca sem sentimento de culpa por estar perdendo tempo.

Poetar é sentar-se numa pedra e contemplar a beleza que está a sua volta.

Desejar ajudar a formiga carregada com uma folha maior do que ela e admirar sua força;

Ouvir o zumbido da abelha a procura de néctar para sua colmeia;

O latir do cão que espreita algo suspeito;

Parar para ver a garça solitária à beira do rio, paradinha,

Esperando, um peixinho distraído passar por ali.

Encantar-se com a revoada de andorinhas, e

assobiar como quem imita passarinhos.

Ouvir o miar do gato que pede para abrir a porta para entrar.

Poetar é levantar-se para continuar a viagem.

Erguer a cabeça quando ela se encurvou sem que você percebesse.

Correr, para fazer um teste de resistência,

em seguida parar para recuperar o folego.

Deitar-se na relva sentindo o frescor que dela brota.

Chorar se tiver vontade.

Rir sozinho das coisas que passam pela cabeça.

Esquecer o celular em casa para evitar a tentação de estar olhando para ele toda hora.

Poetar diante dos outros.

Abraçar alguém para manifestar-lhe carinho.

Saudar um desconhecido reconhecendo que ele existe.

Consolar a criança que chora, porque foi contrariada.

Parar para conversar com alguém que olhou desejando um lero.

Dizer um bom dia para quem está meio apressado para o trabalho.

Compadecer-se com quem anda triste porque perdeu alguém.

Solidarizar-se com o pedinte oferecendo alguma coisa de que precisa.

Atender com polidez quem pediu uma informação.

Agradecer a quem lhe prestou um favor,

Dar uma gorjetinha ao garçom que o serviu,

Evitar julgamentos baseado nas aparências,

Aceitar as diferenças sem preconceitos.

 Poetar os prazeres que a vida oferece.

Tomar um sorvete, lambuzando-se como criança, e dizer que delícia!

Dar uma lambida nos lábios recolhendo as sobras do bolo que comeu.

Acariciar o cachorrinho que veio acenando com o rabinho, cheirar sua perna.

Andar de carro sem pressa, dando a vez para quem tá nervoso.

Subir o morro, parando um pouco pro coração se refazer.

Acender a luz para clarear o ambiente.

Fechar a porta para o vento não a violentar com um empurrão muito forte.

Equilibrar-se numa perna só, treinando para ser bailarino.

Jogar peteca, só para vê-la subir e descer dando cambalhotas.

Tomar um cafezinho sentindo seu aroma entrar pelo nariz.

Comer um pão quentinho que comprou na padaria e

ouvir o estalo crocante dos dentes que o trituram.

Passar um pouco de mel numa torradinha e degustá-la.

Chupar uma melancia madura, como se fosse a primeira vez.

Fechar a boca enquanto come para não cuspir nos outros.

Limpar a boca com o guardanapo e não com a manga da camisa.

Sentir-se satisfação pelo alimento oferecido em refeição.

Poetar vivendo com a natureza.

Balançar-se no cipó que encontrou no caminho da sua trilha.

Encantar-se com a árvore retorcida, mas verdejante e florida.

Tirar uma foto daquela outra seca, mostrando seus galhos secos e desnudos.

Ouvir o grunhido do bambu dançando ao vento.

Encantar-se com o córrego de águas cristalinas escorrendo sobre pedras.

Perceber o barulho de alguém pisando em folhas secas.

Sentir o cheiro que sai da mata virgem.

Subir na pedra, cuidando para não escorregar. 

Pendurar-se no galho da árvore, forte o suficiente para aguentar seu peso.

Poetar na contemplação. 

Sentar-se apoiando as mãos nos joelhos dobrados, para meditar um pouco;

Viajar no tempo trazendo recordações que fazem regredir e reviver o passado; 

Sentir saudades de uma experiência vivida que deixou resquícios na alma;

Ler um romance, vivendo um pouco as aventuras dos personagens;

Meditar nos mistérios da vida, tentando compreendê-la um pouco melhor;

Rezar como se estivesse diante de Deus como um ouvinte interessado, mostrando-lhe tudo o que criou para seu bem.

Depois de poetar:

Adormecer tranquilo para um sono sossegado.

Amanhecer acordando diante de um novo dia para viver, 

e continuar com os afazeres de seu dia a dia.  

Se acaso se estressar, volte a poetar sem compromisso!

POETAR É ISSO:

Poetar o dia a dia

Poetar a vida que passa

Poetar a natureza que está aí.

Poetar os mistérios da vida

Poetar a dor que se vê

Poetar as coisas insignificantes,

Poetar para se distrair,

Poetar para viver.

Poetar é brincar com coisas sérias, tornando mais leve a vida. 

Então, vamos poetar…!  Poetize!