
20 de Dezembro de 2024
POÇO D’ÁGUA…
Blog
Institucional
Pe. Deolino Pedro Baldissera, sds
Estava em Messica em Moçambique. Fiquei observando uma mulher que tirava água de um poço com muita maestria. Depois de tirá-la e encher o balde colocava-o sobre a cabeça e com muito equilíbrio seguia para sua casa. Depois dela outras mulheres vieram ao poço. Essa é a rotina de muitas delas. Diariamente fazem muitas idas e voltas buscando a água necessária para suas casas, para lá preparar a comida, lavar roupa, dar de beber aos animais e tudo o mais onde a água é necessária. Aquele poço, em tempo de escassez de chuva é muito procurado e o balde com a corda para retirar a água não pára. Uma mulher se abastece, a outra entra na fila e assim o dia todo. Às vezes, a água se esgota e aí a próxima da fila pacientemente espera que o poço reponha água e dê condições para tirá-la novamente. A mulher que espera, já sabe mais ou menos quanto tempo vai demorar para jorrar a água. Assim é o cotidiano das mulheres que se abastecem de água naquele poço. Vi mulheres que além de levar o balde cheio à cabeça, carregavam em suas costas também uma criança envolta na capulana. Cabeça e costas ocupadas e as mãos livres balançando como que impulsionando o corpo para frente.
Vendo a cena me veio à memória o texto bíblico que fala da mulher samaritana que todo dia ia buscar água no poço que o pai Jacó havia dado. Lá houve um encontro com Jesus que transformou o dia a dia da samaritana. Ela encontrou uma água que não conhecia e esta saciaria sua sede definitivamente. A mulher samaritana já estava cansada de fazer isso todo dia, por isso aceitou a oferta da água que Jesus lhe fez. A mulher messicana vem todo dia buscar água no poço, ela também tem sede da água que sacia permanentemente, que é a que Jesus tem para dar. Não sei sua religião e nem suas práticas religiosas, mas creio que ela o encontra em seu dia a dia fatigante. Deus tem muitos modos de se revelar. Certamente que não esquece da mulher do poço de Messica em sua persistência em buscar a água para saciar sua sede e dos seus. Talvez, sem ter plena consciência da presença de Deus junto dela em suas idas e vindas ao poço. Sabemos que Deus não abandona seus filhos e tem carinho especial para os mais simples e pobres que lutam pela vida. Como ela aprendeu a esperar pela água do poço, Deus também a espera para saciá-la plenamente com a Outra Água, a que a samaritana recebeu antes.
Comparando as duas mulheres, a de Messica e da Samaria, ambas tem muitas coisas em comum. Uma relação diária com a água. Água que sustenta a vida, que sacia a sede, que lava roupa, que rega a planta… ambas, se dedicam com persistência, esforço na busca da água porque sabem o quanto é essencial para si e para os seus. Daquelas que vieram ao poço enquanto estive ali, não vi nenhuma resmungando ou reclamando de cansaço ou se lastimando de sua sina. Não visitei a casa da mulher que observei tirando água, mas imagino que com aquela água ia preparar a xima para o almoço e jantar, e saciar a sede de seus familiares e animais. Quando a água em casa estiver terminando ela sabe onde buscá-la novamente. Lá no poço aonde sempre vai. Se, quando chegar, não houver água, é só ter paciência e esperar que logo o poço vai ter nova água. Por isso ela não perde a esperança e confia que o poço mesmo na escassez de chuva vai manter a vida daqueles que dependem dele. A relação da mulher e o poço é uma relação de confiança e de amor recíproco. O poço em si não depende da mulher e nem precisa dela, mas a mulher depende e precisa dele. O poço é dádiva para todos os que vierem até ele, vão voltar para casa com água em seus baldes. O poço não se cansa de jorrar água, dia e noite está ele ali de prontidão para atender os sedentos. Assim é Deus, em relação aos seus filhos, está sempre de “prontidão” para saciar a sede dos que o procuram. Qualquer um tem acesso a água, basta ir ao poço, ter uma corda e um balde. Foi assim na Samaria da samaritana, é assim em Messica. Essa relação mulher-poço resume bem a busca e a luta pela vida! Há um convívio entre as duas naturezas, a da água e a da humana.
A samaritana teve a graça de encontrar-se pessoalmente com a fonte perene da água que jorra para a vida eterna, a mulher messicana continua sua luta diária para garantir a água que não é ainda a da vida eterna, mas em seu amor à família por quem se sacrifica diariamente, é o jeito certo de caminhar ao encontro dAquela que um dia também a saciará plenamente. Deus não é injusto e é no cotidiano e na simplicidade da vida que se deixa encontrar.
E Assim podemos cantar a música “bendito poço” a beira da estrada… onde as mulheres encontram sempre a água que buscam! A do poço, poço e a do poço que jorra para a vida eterna.